A Santidade é para todos!
19 de junho de 2025

Queridos amigos, 

Após o tempo pascal e a celebração do Pentecostes, retomámos o tempo comum e chegámos ao aguardado mês dos Santos Populares, celebrando S. António, S. João e S. Pedro. Nas nossas paróquias, temos festejado com animados arraiais no largo da igreja de S. Pedro, na Ericeira, e na capela de S. António, na Carvoeira, envolvendo as Comissões de Festas, os Jovens, o Agrupamento de Escuteiros e toda a comunidade. Aproveito a agradecer aqui a estes grupos paroquiais organizadores pela fantástica dedicação!

Neste artigo, gostava de destacar como a santidade não é uma ambição inacessível, mas a verdadeira meta da vida de cada cristão. No Sermão da montanha, Jesus diz-nos «sede perfeitos como o vosso Pai celeste é perfeito» (cf. Mt 5, 48). Esta perfeição não se trata de uma impecabilidade desde sempre, mas de um desejo de conversão e correspondência à vontade de Deus, que nos leva a um maior esforço pessoal e a um acolhimento da graça do Espírito que nos santifica. O Papa Bento XVI, na oração de Vésperas em Portugal a 12 maio de 2010, dizia que «somos livres para ser santos; livres para ser pobres, castos e obedientes; livres para todos, porque desapegados de tudo; livres de nós mesmos para que em cada um cresça Cristo». No mesmo sentido, o Papa Francisco ofereceu-nos a exortação apostólica Gaudete et Exsultate em março de 2018, onde lembrava como «o Senhor pede tudo e, em troca, oferece a vida verdadeira, a felicidade para a qual fomos criados. Quer-nos santos e espera que não nos resignemos com uma vida medíocre, superficial e indecisa.» 

Poderíamos ser tentados a pensar que a santidade depende exclusivamente do esforço pessoal ou que é apenas para quem for capaz de grandes feitos heroicos, ou para quem nunca pecou, ou para quem tem determinados talentos e capacidades especiais. Vale a pena desmontar essas ideias erradas, a partir da história de vida de um sacerdote espanhol do século XX, chamado Josemaria Escrivá. Nascido em Barbastro em 1902, desde muito novo foi tomado pelo desejo de se consagrar a Deus, impressionado pelas pegadas de uns frades carmelitas que caminhavam descalços na neve. Essas pegadas levaram depois o jovem Josemaria a entrar no Seminário em Saragoça e seguir a vocação sacerdotal, num contexto familiar já marcado pela morte de vários irmãos e do seu pai. Em 1928, com apenas 26 anos, «a graça de Deus e bom humor», o padre Josemaria teve uma inspiração divina decisiva, que lhe permitiu “ver” pessoas de todo o mundo, de todas as profissões – na cidade ou no campo, na terra ou no mar, no hospital, na escola, no clube, na fábrica, no laboratório, no palco – buscando viver em Cristo, transformando e evangelizando o mundo a partir das ocupações habituais de cada um. Esta experiência mística levou o padre Josemaria a começar com grande entusiasmo esta missão. Um amigo perguntou-lhe uns dias mais tarde: então como vai essa obra de Deus? Assim surgiu o nome do Opus Dei – a Obra de Deus! Este movimento, posteriormente juridicamente designado no Código de Direito Canónico como Prelatura Pessoal, é composto maioritariamente por leigos – jovens, homens e mulheres adultos, celibatários, solteiros, casais – incluindo também sacerdotes, partilhando nesta família espiritual o desejo da santidade. No princípio, a mensagem do padre Josemaria foi causa de escândalo e uma aparente loucura: como poderia sustentar-se que a vocação à santidade é para todos, não apenas para sacerdotes ou religiosas?! 

Na verdade, esta ideia da vocação ou chamamento universal à santidade, embora baseada no Evangelho e na própria vida oculta e comum de Jesus até aos 30 anos – como Filho membro da Sagrada Família e como Carpinteiro dedicado no Seu trabalho – parecia esquecida no seio da Igreja. Alguns chegaram a afirmar que tal mensagem teria chegado com 100 anos de antecedência, levando o Fundador a sofrer graves incompreensões e perseguições, dentro e fora da Igreja. Em plena guerra civil espanhola, o padre Josemaria teve a cabeça a prémio, mas conseguiu escapar através de uma extraordinária fuga a pé pelas montanhas nos Pirinéus. Já nos anos 40, o padre Josemaria foi cativando muitos com a pregação sobre a nossa condição de filhos amados de Deus e a possibilidade da santidade na vida comum, convidando a realizar cada pequena tarefa diária na vida familiar e no trabalho profissional com mais amor, encontrando Cristo em todas as coisas. A santificação por meio do trabalho é também ocasião de apostolado junto de todos e de fermento no meio da massa deste mundo. 
O padre Josemaria resumia a vocação à santidade na famosa homilia Amar o mundo apaixonadamente, proferida em 1968 na Universidade de Navarra: «Meus filhos, onde estiverem os homens, vossos irmãos; onde estiverem as vossas aspirações, o vosso trabalho, os vossos amores, é aí que está o sítio do vosso encontro quotidiano com Cristo. É no meio das coisas mais materiais da Terra que devemos santificar-nos, servindo Deus e todos os homens. (…) Ficai a saber: escondido nas situações mais comuns há um quê de santo, de divino, que toca a cada um de vós descobrir. (…) Na linha do horizonte, meus filhos, parecem unir-se o céu e a terra. Mas não; onde se juntam deveras é nos vossos corações, quando viveis santamente a vida de cada dia...» 
A Igreja veio confirmar a mensagem de S. Josemaria no Concílio Vaticano II, entre 1962 e 1965, com os Bispos conciliares a afirmarem na Constituição Dogmática Lumen Gentium que «os cristãos de qualquer estado ou ordem, são chamados à plenitude da vida cristã e à perfeição da caridade» (Lumen Gentium, 40). O padre Josemaria dedicou toda a sua vida a exortar à santidade e morreria em 1975 em Roma. O Opus Dei - a Obra – foi cada vez mais implantado em muitos países dos cinco continentes e o Fundador foi beatificado pelo Papa João Paulo II em 1992, sendo canonizado dez anos depois. Ainda hoje, o seu exemplo e os seus escritos – os pequenos livros Caminho, Forja e Sulco, entre outros – inspiram milhões de pessoas! 
Partilho convosco quanto devo a S. Josemaria: a sua vida santa foi muito marcante para a conversão dos meus pais, para a generosa decisão de terem mais filhos (eu sou o sexto filho e ainda tenho uma irmã mais nova!) e para a minha formação (pude estudar no colégio Planalto, em Lisboa, ligado ao Opus Dei, onde fiz tantos amigos para a vida). Além disso, fui ordenado sacerdote precisamente no dia 26 junho de 2016, dia litúrgico de S. Josemaria! Que ele nos ajude a lutar mais pela santidade, recordando que «são santos os que lutam até ao final da sua vida: os que se sabem levantar sempre depois de cada tropeção, de cada queda, para prosseguir valentemente o caminho com humildade, com amor, com esperança» (Forja, 186).
Boas festas! Espero ver-vos no largo da igreja para festejarmos os santos e que toda a nossa comunidade se faça ao largo também!  Um abraço amigo do Padre Tiago