Artigo de opinião | Ressurreição
11 de abril de 2021

Pensei escrever nesta data sobre a Fé, que é um tema que muito me toca e apaixona, porém, dado que estamos em plena Páscoa, porque não falar antes sobre a ressurreição???

Dizemos nesta altura:

Cristo ressuscitou, Aleluia! Aleluia!

Durante toda esta semana, é Páscoa, que continuará durante muito mais tempo. (+/-50 dias). A ressurreição é o tempo de vida nova para todos. Tempo de mudança.

Sair do sepulcro, olhar para Jesus e seguir o Seu exemplo, que se recusou ficar ali, sepultado, entre pedras, enfaixado em ligaduras, sem nada fazer.

Todos nós, quando encontramos Jesus ressuscitamos para uma vida nova. A nossa vida desabrocha, começa a dar frutos. Passamos da morte à vida. Até aí, parece que nada tem vida, nada tem sentido.

A fé, de uma determinada maneira é o combustível que nos faz mover depois de sairmos do sepulcro.

Este novo olhar, como que iluminados com lâmpadas bem fortes, faz-nos ganhar nova dinâmica. 

O bem, alimenta-se do bem.

A fé, gera vida nova em nós. Faz-nos pessoas com sinal mais.

- Querer ajudar mais;

- Querer amar mais.

A cruz é também para todos os cristãos, um sinal mais, e não um sinal negativo, como muitas vezes lhe atribuímos.

Um cristão convicto é aquele que aceita a sua cruz, fazendo dela o seu “mais”, ou seja, transformando aquilo que à partida será menos bom, numa mais valia.

Ser capaz de aceitar a vontade do Pai é, ao fim e ao cabo, aceitar a Sua oração:

“Seja feita a Vossa vontade”…

Ressuscitamos sempre que somos capazes de deixar os nossos maiores defeitos (a inveja, a maledicência, a infidelidade, o ódio, etc, etc…).

Deus não nos pede para fazermos grandes coisas, mas sim fazer as pequenas coisas, bem feitas e com muito amor.

Ressuscitamos se somos capazes de perdoar, sem ficar com ressentimentos, ou pedras no sapato, do tipo, eu perdoo, mas não esqueço.

Isso, não é nada! No mínimo, perdoar, perdoar é esquecer. Só assim vamos conseguir continuar o nosso caminho.

Quem caminha com pedras no sapato, acaba por ficar com os pés feridos e não vai longe.

Se tanto nos confessamos e pedimos perdão a Deus, teremos de ser capazes de perdoar também àqueles que nos ofenderam.

Quando chegamos à conclusão de que não conseguimos mudar os outros, o melhor mesmo, será começar a pensar como nos mudamos a nós, para melhor aceitar os outros.

O que podemos fazer para viver com tantas diferenças que nos machucam e nos magoam??? Só me recordo do filme “Dos homens e dos Deuses”, onde aqueles monges, que viviam no Monte Atlas, na Argélia, fazendo o bem a toda a comunidade, acabou por ser aniquilado por motivos políticos.

Ressuscitamos, quando largamos as amarras do pecado, e a tudo que nos destrói.

A verdadeira liberdade não é aquela que nos permite fazer tudo. Essa é a libertinagem.

A liberdade verdadeira é aquela que vive de mão dada com a verdade, com a fidelidade e responsabilidade, sempre a caminho do bem. Esta liberdade pode até levar-nos à renúncia e a ter de abdicar de algumas coisas, mas sempre em prol de um bem maior, que será o caminho para Deus.

Dizia Salomão, que há um tempo para a tristeza e um tempo para a alegria.

Temos a verdadeira alegria quando ressuscitamos para Jesus. Se deixarmos morrer em nós tudo o que é pecado, estamos aptos a gerar em nós vida nova.

Quando terminamos os Cursilhos de Cristandade, ao recebermos a nossa Cruz, que guardamos religiosamente na nossa vida, ouvimos dizer:

“Deus conta contigo”;

E nós respondemos: “E eu com a Sua graça”.

Todos sentimos que o Curso de Cristandade é também uma graça, e uma forma de ressurreição.

Para muitos, senão para a maioria, é o acordar para uma vida nova, cheia de cor e alegria.

O Curso faz de nós gente nova, com novos óculos, com lentes limpas, e com uma exímia afinação que nos leva a olhar a vida, os amigos, a família, a igreja, e a comunidade, com um olhar tão diferente, tão diferente, como quem passa de uma TV a preto e branco, para cores.

Quem não sente, que saiu dali , muito mais “rico”?

Eu saí de lá, como se um novo sol brilhasse na minha vida. Como se Deus me tivesse marcado com um ferro em brasa, onde ardia o Seu amor.

É esse amor, essa chama que arde dentro de mim, a chancela do Seu amor, que me faz confiar, acreditar, ter fé e ter a certeza que, por mais adversas que sejam as situações, Ele está sempre junto de mim e não me vai abandonar.

É uma fé cega, mas é aquela que tenho e que me faz não temer e alimenta a minha esperança.

Acredito que, talvez, os que, por razões várias, desceram aos “infernos da vida”, sintam de modo bem diferente esta verdadeira ressurreição.

Deus dá-nos várias oportunidades na vida, as chamadas “segundas chances”. Há que as aproveitar, tal qual, como aquela mulher do Evangelho, que aproveitava as migalhas de pão.

Estas migalhas, são, muitas vezes, o essencial para voltar a acreditar que podemos renascer das cinzas e voltar a fazer tudo melhor.

Creio que já morri várias vezes, ressuscitando de seguida, para um novo recomeço.

Agradeço reconhecidamente a Deus pela Sua infinita misericórdia.

Na Missa, o sacerdote diz:

“Não olheis aos nossos pecados, mas à fé da vossa Igreja”.

O que seria de nós se Deus olhasse aos nossos pecados?

O que seria de nós sem a Misericórdia de Deus?

Poucos se salvariam.

Todos aqueles que conseguem deixar que Deus lhes entre na pele, podem virar autênticas “tochas humanas” de propagação da fé.

Ressuscitamos também quando nos dispomos a ouvir e a ler a Palavra de Deus.

Desta escuta e leitura nasce também a Fé, que nos vai transformando e nos faz virar do avesso para amar e servir o próximo.

Assim como a lagarta, que passa a borboleta, assim também nós, podemos passar de uma vida de simples rastejantes a algo bem melhor e belo, com asas fortes, coloridas, que nos levam a aspirar às coisas do alto.

A ressurreição garante-nos um amor que é muito mais forte do que a morte.

Jesus disse:

“EU SOU A RESSURREIÇÃO E A VIDA.

AQUELE QUE CRÊ EM MIM, AINDA QUE ESTEJA MORTO, VIVERÁ. E TODO AQUELE QUE VIVE E CRÊ EM MIM, JAMAIS MORRERÁ.“

(Rezemos para que Deus nos ajude a ressuscitar a cada dia.)

Tema apresentado por Noémia Barros em reunião Zoom, na Ericeira, de alguns membros dos Cursos de Cristandade, em 5 de Abril 2021.