Artigo de opinião | Pós-confinamento – tempo de Missão
13 de julho de 2020

Artigo de opinião de P. Duarte da Cunha

O tempo de confinamento por causa do Coronavírus, que em parte passou e em parte continua, teve imensos desafios. O mais correcto é, de facto, dizer que tem sido um tempo desafiante em todos os campos da vida humana, quer no âmbito das famílias e dos lugares de trabalho, quer no âmbito das instituições e até da Igreja. Nada ficou de fora. Entre os muitos aspectos da vida afectados, proponho olhar para o que diz respeito à fé, pois ela é central e está relacionada com a vida no seu todo.  

Pode ser útil comparar o confinamento com o tempo que Jesus passou no deserto logo após o baptismo e antes de dar início ao ministério público. Diz São Lucas que Jesus esteve no deserto acompanhado e guiado pelo Espírito Santo (cf. Lc 4, 1), pelo que terá sido um tempo privilegiado de oração e certamente fundamental para o que se seguiria. É muito útil estar no deserto, como aconteceu com o Povo de Deus que, depois de sair do Egipto, passou nele quarenta anos para entrar com outra maturidade na Terra Prometida. Nesse tempo, nem tudo foi fácil e nem sempre foram capazes de manter a fidelidade, mas no fim chegaram mais maduros. Assim, também para muitos de nós, estes dias, fechados em casa, foram e estão a ser um tempo de amadurecimento da fé com o Espírito Santo a indicar os passos a dar. Faz-nos lembrar o profeta Oseias que dizia que Deus levou o povo ao deserto para falar-lhe ao coração: “Eu mesmo a seduzirei, a conduzirei ao deserto e lhe falarei ao coração” (Os 2,16).  

Mas o tempo de confinamento, como são os tempos de deserto, foi também um campo de luta contra tentações. Não podemos esquecer que o próprio Jesus foi tentado no deserto. É verdade que Jesus venceu todas as invectivas do demónio; nós nem sempre o conseguimos! Contudo, graças à Sua Páscoa, podemos ser com Ele vencedores, apesar de tantas vezes cairmos e precisarmos de ser levantados. Para isso a Igreja recebeu do Senhor o sacramento da confissão!  

Muitos houve, que neste tempo, lutaram, mas que, talvez por estarem menos preparados ou menos acompanhados, se afastaram da oração e da vida sacramental e acabaram por nem sequer sentir dela necessidade. Não há dúvida que era fácil cair na distração ou ficar embrenhado nas notícias, esquecendo aqueles alicerces que enchem a vida de alegria e que nascem da relação com Deus: a fé, a esperança e a caridade.  

Por tudo isto, este Verão é um tempo especial de Missão. Pensando com ternura nos que viveram com mais dificuldades estes dias, sentimos que agora é tempo de voltar a chamá-los. Como aliado, Deus conta com o coração humano, que nunca se sente saciado com as coisas deste mundo, nem sequer com os sonhos, e que em tempo de confinamento grita ainda mais alto por uma resposta. É verdade que mesmo para muitos que se afastaram da fé, este tempo trouxe ao de cima esta sede. Contudo isso não basta. Não basta procurar e sentir sede. Queremos encontrar uma resposta.  

Jesus Cristo é a resposta, e Deus conta com aqueles que neste tempo aprofundaram a fé e estão mais seguros, para ir ao encontro dos que estão longe e dar-lhes a salvação. O anúncio do Evangelho aos que estão mais distantes acontece através dos que estão mais perto.  

O método de Jesus é conhecido, Ele chama uns para irem ao encontro dos outros. “Fui Eu que vos chamei e vos designei, para que vades e deis fruto e o vosso fruto permaneça” (Jo 15, 16). É urgente, para que não se perca o fogo que o Espírito acendeu nos corações de tantos, que ninguém se esqueça dos outros que precisam de ser ajudados a recuperar trabalho ou saúde, a reencontrar um sentido para a vida, a voltar para Deus.

In Jornal Voz da Verdade