Obrigado, Dom Daniel!

Queridos amigos,


Prometido é devido. Como combinado, nesta crónica conto-vos sobre a peregrinação paroquial a Medjugorje mas escrevo também sobre o nosso bispo Dom Daniel, agora já junto de Deus.

Depois de termos visitado os lugares do santo Padre Pio em Itália, atravessámos o Mar Adriático de barco durante a noite e seguimos até Dubrovnik, vila costeira amuralhada e tão bonita já na Croácia, ainda com as marcas da guerra dos Balcãs dos anos noventa. Daí seguimos de autocarro até Medjugorje, pequena vila já na Bósnia-Herzegovina, onde se encontra um santuário mariano que é lugar de peregrinação desde há 41 anos. Em junho de 1981, seis adolescentes anunciaram ter visto ali Nossa Senhora. Desde então, os seis videntes, agora já adultos, continuam a trazer mensagens de Nossa Senhora e muitos peregrinos acorrem até lá. Também nós, mesmo com peregrinos de idade avançada, tivemos oportunidade de visitar o santuário e subimos um dia pelas pedras ao Podbrdo (a colina das Aparições) e noutro dia “escalámos” o Monte Križevac, no cimo do qual está uma grande cruz a terminar uma via-sacra.

Confesso que ia movido por alguma curiosidade e perguntava-me: porque é que Nossa Senhora aparece num sítio assim, depois lacerado pela guerra, àqueles seis adolescentes? Por outro lado, Nossa Senhora também quis visitar os três pastorinhos em Fátima em 1917 e a Cova da Iria era um lugar de pasto de ovelhas, muito pouco “recomendável” para acolher a visita de Maria. Esta predileção mariana pelos últimos lugares, manifestada pelas aparições nos lugares mais improváveis e aos mais pequeninos é também uma marca do Evangelho. Havendo dúvidas relativamente à credibilidade das aparições de Nossa Senhora em Medjugorje, a Igreja prudentemente não se pronuncia sobre elas enquanto decorrem, mas já reconhece desde 2019 que Medjugorje é um lugar de peregrinação e onde há tantos frutos de graça. E foi isso que eu pude observar nestes dias: não vi Nossa Senhora mas vi tantos peregrinos a pedir o sacramento da confissão com muitos padres confessores. Não vi Nossa Senhora mas vi milhares de jovens e mais velhos diariamente a rezar o Terço e a adorar o Santíssimo Sacramento e a Cruz. Não vi Nossa Senhora mas vi tantas vocações religiosas. Não vi Nossa Senhora mas vi com espanto os extraordinários testemunhos pessoais de conversão em Medjugorje, que mostram a grande misericórdia de Deus connosco. A mensagem de Nossa Senhora é a mesma de sempre: vem chamar-nos à conversão ao Seu Filho e deixa-nos cinco “pedrinhas” para nos ajudar no caminho: a oração diária do Terço, a leitura da Palavra de Deus, o jejum, a confissão mensal e a Eucaristia ao Domingo. Vamos a isso?

Com estes bons propósitos, regressámos a Portugal no dia 26 outubro e logo dois dias depois tivemos outra emocionante visita à Serra do Socorro, desta vez com organização dos jovens. Eram cerca de mil paroquianos das várias paróquias da nossa vigararia de Mafra, peregrinando como “Maria, que se levantou e partiu apressadamente” em direção à montanha. Subimos, noite dentro, à luz das velas, até ao ponto mais alto do nosso concelho e rezámos pelo nosso bispo Dom Daniel e pela Jornada Mundial da Juventude que terá lugar em Lisboa no verão de 2023.

O Mês de novembro, na tradição da Igreja, é ocasião para recordar os fiéis defuntos e a nossa esperança de ressurreição e vida eterna. Depois da festa de Todos os Santos, do pão por Deus e da visita aos cemitérios no dia seguinte, recebemos a notícia da morte de Dom Daniel. Natural de Santo Isidoro e com tanta estima pela Ericeira, onde trabalhou no porto de pesca na sua juventude, Dom Daniel entrou no seminário ainda jovem e foi ordenado sacerdote em 1990, sendo depois formador no Seminário de Almada, pároco na Ramada e Famões, Algés e Cruz Quebrada, Torres Vedras e Matacães. Veio a ser ordenado bispo em 2018 e logo em 2019 foi-lhe diagnosticado o cancro, que o acompanhou na missão de bispo. Viveu a doença servindo até ao fim, visitando as comunidades e confirmando tantos cristãos na fé, olhando para a morte de frente, agarrando a Sua Cruz com plena confiança na ressurreição de Jesus e na Sua promessa para nós. Que testemunho tão poderoso de fé e de amor! Obrigado, Dom Daniel!

Mantive admiração e amizade com Dom Daniel desde que foi meu diretor espiritual durante dois anos no seminário dos Olivais, entre 2012 e 2014. Recordo com saudade uma conversa em que ele me dizia que Deus não precisaria de mim como Seu advogado de defesa, a tentar defendê-Lo nos mistérios das dores da nossa vida, mas sim como um padre que acompanha, mesmo em silêncio, ajudando quem chora a experimentar a Sua consolação, proximidade e esperança. Lembro também como Dom Daniel sorria aflito, quando eu lhe dizia que achava que ele iria ser bispo! Tendo acolhido com obediência esta vocação, Dom Daniel foi o responsável pelo acompanhamento da nossa região do Oeste e tantas vezes me ligava para saber do Cón. Armindo e de mim e das paróquias, muitas vezes até nas suas sessões de quimioterapia. Finalmente, recordo esta última vez em que ele esteve na Ericeira, a presidir à Missa e Procissão da Festa de Nossa Senhora da Boa Viagem, na qual fez um pedido ao seu amigo Toni Porras e a toda a nossa comunidade: que aqui organizássemos um grupo Stella Maris, para cuidar pastoralmente de todos os pescadores e surfistas. Assim o estamos a fazer, Dom Daniel! E contamos com a sua intercessão a partir do Céu!

Este mês assinalou também os cinco anos do FAROL, celebrados no Dia Mundial dos Pobres com conferência e lanche juntando voluntários e beneficiários num ambiente familiar. É bom notar como tem havido este esforço conjunto de tantas entidades em trabalhar juntos em rede, para dar resposta às necessidades materiais e espirituais de todos. E muito há para fazer.  

Finalmente, já contagiado pela febre do Mundial de futebol no Qatar, escrevo com a esperança de que os nossos jogadores possam fazer um grande torneio e dar-nos o desejado título. Aposto em nós e fica aqui escrito. Espero também que o esforço máximo de todos os jogadores nos inspire para da mesma forma darmos a Deus o melhor de nós, no tempo de Advento que agora começa e nos convida a preparar os caminhos do Senhor. É tempo de arrumar o coração para o Natal pela oração e confissão, iluminando as casas e ruas, participando nos concertos e cantando músicas de Natal, compondo os presépios e decorando a árvore, participando também nas festas em comunidade: venham todos à Missa, Procissão e Festa em honra de Nossa Senhora da Conceição, no dia 8 dezembro, e à Missa e Festa em honra de Nossa Senhora do Ó, no dia 18 dezembro!

Com votos de bom Advento, Deus vos abençoe. 

Um abraço amigo do padre Tiago